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8 de março e a luta das mulheres:

semearmos a igualdade para colhermos justiça!

por Dom Vicente Ferreira, Marina Oliveira e Marcela Nicolas

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Ilustração: Marcela Nicolas (@marcelanicolass)

08 de março é o Dia Internacional de Luta da Mulher. A data nos remete a pelo menos três grandes acontecimentos que marcaram a história mundial: (1) em 1910, durante a II Conferência Internacional das Mulheres, em Copenhague, Clara Zetkin propôs que mulheres do mundo inteiro organizassem um dia especial em defesa do voto feminino; (2) em 1917, mulheres russas tomaram as ruas de Petrogrado (hoje São Petersburgo), reivindicando o fim da participação da Rússia na I Guerra Mundial e o fim a monarquia; (3) em 1957, quando operárias foram queimadas vivas nos Estados Unidos, por exigirem melhores condições de trabalho e tratamento igual em relação aos homens. A partir de então, muitas lutas em prol dos direitos igualitários das mulheres cresceram. No entanto, apesar de algumas conquistas, notamos que ainda temos um longo caminho a percorrer. A violência contra as mulheres revela que vivemos numa sociedade brutalmente machista. Pequenas palavras e gestos preconceituosos ou os absurdos índices de feminicídios existentes no Brasil, por exemplo, mostram dramas terríveis enfrentados pelas mulheres. A questão da igualdade de direito entre mulheres e homens é uma urgência que exige de nós enfrentamentos em várias esferas.
Olhando para Jesus, lembremos, mais uma vez, de sua incondicional acolhida e respeito pelas mulheres. Quão belo é seu encontro com a Samaritana (Cfr Jo 4) e sua amizade com Marta e Maria (Cfr. Lc 10, 38-42). É de Maria, a Mãe de Jesus, a mais linda poesia libertadora do Evangelho, o Magnificat (Cfr. Lc 1, 46-56). As mulheres também ocupavam um lugar fundamental nas comunidades primitivas, como é o caso de Priscila (Cfr. Rm 16, 3). A partir disso, São Paulo afirma: “não há mais diferença entre judeu ou grego, entre escravo ou homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo” (Gl 3, 28). Como cristãos, temos a missão de reconhecer esta ainda tão brutal desigualdade e, cada vez mais, nos colocarmos em luta para garantirmos os direitos inalienáveis das mulheres em nossa sociedade e Igreja.
A Campanha da Fraternidade de 2021, que é ecumênica, reservou uma parte das reflexões para tratar da superação da violência contra as mulheres. É um absurdo constatar que até hoje há textos escritos por mulheres que, para serem reconhecidos, precisam ser assinados por homens. E como não nos indignarmos com o fato de que os assassinos de Marielle Franco e de seu motorista Anderson, no crime acontecido no dia 14/03/2018, ainda não foram identificados e presos, depois de 3 anos? Ouçamos também o Papa Francisco: “a organização das sociedades em todo o mundo ainda está longe de refletir com clareza que as mulheres têm exatamente a mesma dignidade e idênticos direitos que os homens. As palavras dizem uma coisa, mas as decisões e a realidade gritam outra” (Fratelli Tutti, n. 20).
Em nossas celebrações e manifestos, reconheçamos que a presença feminina é fundamental para a travessia cultural que vivemos. Há um mundo diferente nos esperando e ele mora na utopia da mulher que gera a nova vida. Esse ano, Carolina Maria de Jesus ganhou o título de doutora honoris causa, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Favelada de São Paulo, que morreu em 1977, ficou conhecida pelos seus escritos. O livro Quarto de Despejo é leitura obrigatória para nossos dias com suas passagens tão atuais “como é horrível ver um filho comer e perguntar: Tem mais?. Esta palavra “tem mais” fica oscilando dentro do cérebro de uma mãe que olha as panelas e não tem mais.”  
Quantas mulheres passam por situações parecidas e, ainda mais, no nosso país em que as mulheres - chefes de família - são as primeiras a sofrer com a fome, o desemprego e os descasos com a saúde! As mulheres de ontem, como a própria Mãe de Jesus, firme aos pés da cruz; mas também as de hoje, como as de Brumadinho que buscam pelos seus filhos não encontrados na lama assassina da Vale e as da Praça de Maio, em Buenos Aires, que há quarenta anos pronunciam o nome do filho desaparecido pela ditadura militar Argentina. Em tantas ocasiões, temos provas concretas de que o rosto feminino da vida é o amor que resiste sem nunca desistir. E que feri-lo é fazer sangrar o coração do próprio Deus. 

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