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Por uma Comunicação Popular e Libertadora

Dom Vicente Ferreira (Bispo Auxiliar Arquidiocese de Belo Horizonte)

Comunicação é palavra chave em nossa existência como seres humanos. Ainda mais, numa cultura globalizada, na qual somos hiperconectados. Se por um lado, comemoramos conquistas, por outro lado, perguntamo-nos a quem servem as diversas plataformas virtuais. O acesso a informações fundamentais para o cotidiano, o encontro das culturas, a mobilidade humana, são ganhos que os meios de comunicação nos possibilitam. No entanto, sabemos que as redes virtuais, cada vez mais, são territórios de disputas das mais variadas ideias e produtos. No horizonte da fé cristã, temos que nos questionar, sempre, sobre a profundidade do que compartilhamos e acessamos em relação aos conteúdos religiosos, culturais, de lazer etc. Ou seja, é nossa tarefa pensar uma comunicação que seja popular e libertadora. Um projeto do povo, com o povo e para o povo, comprometido com a verdade, a serviço da vida e das causas do Evangelho.

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Ilustração: Marcela Nicolas

Com a motivação bíblica “vem e verás” (Jo 1, 46) e o lema “comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”, celebramos o 55º dia mundial das comunicações. Em sua mensagem para essa ocasião, o Papa Francisco convida todos os comunicadores a saírem das comodidades para irem e verem a realidade concreta das pessoas.  Reconhece o risco de uma comunicação autorreferencial, feita a partir de gabinetes, utilizando narrativas dominadoras, sem compaixão com as dores e alegrias de nossos povos. É preciso “gastar a sola dos sapatos”, diz Francisco.  Lembra que aos primeiros discípulos Jesus disse: “vinde e vereis” (Jo 1, 39). Isso significa que “o método «vem e verás» é o mais simples para se conhecer uma realidade; é a verificação mais honesta de qualquer anúncio, porque, para conhecer, é preciso encontrar, permitir à pessoa que tenho à minha frente que me fale, deixar que o seu testemunho chegue até mim (mensagem do Papa para o 55º dia mundial das comunicações).

Continuando, o Francisco louva o esforço de tantos jornalistas, câmeras e outros profissionais que, com coragem, mostram ao mundo realidades de conflitos, como as guerras, mesmo correndo risco, sofrendo perseguições. São pessoas que expõe a própria vida para garantirem a democracia, o direito de tantas pessoas de conhecerem a verdade de variadas situações. Essa coragem tem que continuar sobretudo agora em tempos de Pandemia, ressalta Francisco. Quem mostrará os dramas, os gritos dos mais pobres? É urgente romper os vícios de uma mídia controlada pelos mais ricos, fazendo valer apenas seu estilo confortável de vida. As redes sociais ajudaram-nos a desfrutar muitas coisas boas que são, todos os dias, compartilhadas. No entanto, há muita deslealdade, como, por exemplo, as Fake News. Para superar uma eloquência vazia, muitas vezes agressiva, é necessário tocar e ser tocado pelas situações reais da vida. Lembrando São João, Papa Francisco cita: “nós estivemos com Ele, o ouvimos, tocamos nele. Ou seja, fizemos uma experiência real com Jesus” (cf. 1 Jo 1, 1-3).

Diante disso, para nosso processo de formação pastoral em comunicação popular, propomos algumas atitudes básicas que orientam a dinâmica de uma comunicação popular e libertadora. Primeiro, que partamos da convicção de que nós mesmos somos uma mensagem de Deus no mundo. Antes de anunciar uma palavra, mostrar um gesto, nós nos comunicamos, na singularidade do que somos. A boca fala daquilo que o coração está cheio, disse Jesus (Cfr. Mt 12, 34-35). Em muitos casos, o que não é falado ou mau dito, vira doença. Por isso, por mais que o mundo virtual seja importante, ele deve ser tratado como canal que facilita, mas não como substituição da presença nas relações interpessoais. Lembrando sempre que somos todos irmãos e irmãs cuidadores de uma casa comum. Por isso, a promoção da cultura do encontro e o zelo pelo nosso planeta são metas prioritárias.

Um segundo ponto, trata-se da tarefa de formar nosso senso crítico para não sermos enganados por tantas informações. Sabemos dos riscos das Fake News. Elas danificam relações, colocam no poder, pela força da manipulação e do dinheiro, líderes e ideias. Uma consciência crítica procura discernir a verdade, buscando as fontes, vendo a credibilidade do que é compartilhado. Se disputamos os espaços virtuais é para dar voz e vez aos mais pobres, para construirmos o Reino de Deus, não para mantermos posturas narcísicas. Podemos até ser criticados, atacados, mas não abrimos mão de partilhar nossos pontos de vista, à luz do Evangelho de Jesus. Por isso, é tarefa nossa educar nossos irmãos e irmãs que dizem que não devemos nos envolver com assuntos de política, debates sobre cultura etc. A comunicação cristã, inevitavelmente, denuncia injustiças e anuncia o Reino de Deus.

Em consequência disso, para a pastoral, é vital não apenas divulgar notícias, eventos esporádicos. Aos poucos, em nossa Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário, desbravamos esse novo mundo. Por isso, o papel de vocês comunicadores é central na organização de agendas de comunicação. Sugerimos que sempre respondam a essas perguntas, quando fizerem um planejamento estratégico: o quê? Quando? Como? Para quem?  E que nos preocupemos com elementos básicos como identidade visual, questões de linguagem, público alvo, e com a alimentação de nossas redes.

Por fim, agradecemos a todos e a todas que, muitas vezes de forma voluntária, gastam seu tempo nesse precioso trabalho de comunicadores e comunicadoras de nossas pastorais. Não tenham medo! Se andamos com Jesus, seu Espírito nos modelará na arte sempre mais bela de comunicar seu amor sobretudo aos mais pequeninos. Mas isso não acontece de forma espontânea. É preciso nos formarmos.

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